segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Simplesmente, MERCEDES SOSA



A cantora argentina MERCEDES SOSA, de 74 anos, morreu neste domingo, 04/10/2009, em Buenos Aires, em um hospital do bairro portenho de Palermo em consequência do agravamento de uma doença hepática complicada com problemas cardiorrespiratórios.
"Nesta data, na cidade de Buenos Aires, Argentina, temos que informar que a senhora Mercedes Sosa, a maior artista da Música Popular Latino-americana, nos deixou", afirmou sua família em uma nota.

A morte de Mercedes Sosa mobilizou a Argentina; todos os canais de televisão passaram a transmitir shows dela.

"Mãe amada e amorosa, mulher da América ferida, a sua canção nos dá asas e faz com que a pátria toda, encolhida e desolada, ainda não morra, porque sempre cantarás nas nossas almas", afirmou a cantora TERESA PARODI, amiga de Sosa.

Outro artista e amigo de Mercedes Sosa, JUAN CARLOS SARAVIA, disse que a notícia era esperada, mas "quando chega é muito triste".

O corpo da artista será velado a partir do meio-dia (horário de Buenos Aires), na sede do Congresso Nacional.

Sosa é uma das intérpretes mais conhecidas da música regional latino-americana e a mais famosa artista argentina depois de CARLOS GARDEL e ASTOR PIAZZOLLA.

Com seis décadas de carreira na qual circulou por todos os gêneros musicais, Mercedes Sosa repartiu o palco em todo mundo com músicos de diferentes estilos e gerações, sem perder nunca sua profunda ligação com o folclore, a música predominante do interior argentino.

Entre os compositores que interpretou estão CHARLY GARCÍA, ALEJANDRO LERNER, ATAHUALPA YUPANQUI, LEÓN GIECO, FITO PÁEZ e SILVIO RODRÍGUEZ.

Sosa enfrentou também censura e perseguição na década de 1970, durante a ditadura militar argentina, quando seus discos, carregados de conteúdo social, transformaram-se em referência contra o regime.

Internada em 18 de setembro, encontrava-se em coma desde quinta-feira, respirando com a ajuda de aparelhos. O estado de saúde de Sosa era acompanhado por numerosos artistas, incluindo alguns que a visitaram no hospital, e por fãs que encheram de mensagens o site oficial da cantora na internet.

"São instantes de oração. Isto tem a ver com uma situação de vida em que ela viveu plenamente seus 74 anos, fez praticamente tudo o que quis, viveu uma vida muito plena", disse na quinta-feira a jornalistas Fabián Matus, o único filho da cantora. "Mercedes sempre foi um símbolo de liberdade", acrescentou.

Sosa, apelidada carinhosamente de La Negra, por causa da cor de sua pele, ficou fora de cena por algum tempo anos atrás por um problema de saúde, mas retornou em 2005.

Neste ano, ela lançou um disco em dois volumes denominado "Cantora", em que canta em parceria com artistas como Joan Manuel Serrat, Caetano Veloso e Shakira, razão pela qual está indicada a três prêmios Grammy Latino.

Para SHAKIRA, "Mercedes foi a voz maior e teve o maior coração para quem sofre. Foi a voz de seus irmãos da terra que elevou o canto da dor e da justiça", segundo um comunicado divulgado pelo escritório de imprensa da artista, em Bogotá.

Segundo SHAKIRA, Mercedes Sosa foi uma artista que "sofreu o exílio dando exemplo de coragem e voltou com naturalidade a seu lugar de escolhida".

De sua herança, segundo a cantora colombiana, "nos deixa a simplicidade de seu gesto e de sua dança, e a luz de sua palavra e de seu afeto".

UM POUCO DE SUA TRAJETÓRIA

A cantora Mercedes Sosa nasceu na cidade argentina de Tucumán, no dia 9 de julho de 1935. Ela morreu hoje, aos 74 anos.

Ela começou a carreira em 1950, aos 15 anos. Ao lado de um grupo de amigas, ela participou de uma competição na rádio local, LV12, de Tucumán, apresentando-se sob o pseudônimo de GLAYDYS OSORIO.

Ganhou o primeiro prêmio do concurso, um contrato de dois meses para trabalhar na emissora. Por conta de seus grandes e lisos cabelos pretos ganhou o apelido de La Negra.

Na década de 1960, a cantora se envolveu com a música folclórica argentina. Com o marido, MANUEL OSCAR MATUS, gravou seu primeiro disco, Canciones con Fundamento, em 1965. Neste ano, também gravou a música "Palomita del Valle", no álbum Romance de la Muerte de Juan Lavalle, de ERNESTO SÁBATO e EDUARDO FALÚ.

Em 1967, passou a ser conhecida nos Estados Unidos e Europa, após se apresentar em Miami, Lisboa, Porto e Roma, entre outras cidades.

Alguns anos depois, gravou com ARIEL RAMIREZ e FELIX LUNA, a Cantata Sudamericana e Mujeres Argentinas, além de um tributo também à chilena Violeta Parra, no álbum Homenaje a Violeta Parra.

Em 1979, um show na cidade de La Plata é interrompido e Mercedes e o público são presos. No mesmo ano, exila-se em Paris e depois se instala em Madri. Ela regressou à Argentina em 1982.

Militante ativa contra a ditadura militar nos anos 70 e 80 - quando se celebrizou como a voz da canção de protesto latino-americana -, Sosa apoiou a eleição dos Kirchner recentemente.

Nos últimos anos, antes do agravamento de seu estado de saúde, excursionou por diversos países da América Latina e Europa, se apresentando com grande sucesso. Em 2007, cantou em São Paulo e negou que aquela era sua última vez no Brasil
"De jeito nenhum", disse Sosa à Folha de São Paulo antes do show. "Ainda vou cantar na Europa e quero voltar ao Brasil muitas vezes."