segunda-feira, 12 de outubro de 2009

HOMOSSEXUALISMO E RELIGIÃO


O relacionamento entre homossexualidade e religião varia de maneira enorme durante tempos e lugares. Alguns grupos não influenciados pelas religiões abraâmicas – judaísmo, cristianismo e islamismo – veem a homossexualidade como sagrada, enquanto que os grupos que foram influenciados por tais religiões veem-na quase sempre de forma negativa. Na era do colonialismo e do imperialismo, praticado, geralmente, por países de fé abraâmica, algumas culturas adotaram atitudes antagônicas quanto à homossexualidade. Atualmente, grupos e doutrinas de religiões abraâmicas veem a homossexualidade negativamente; alguns desencorajam-na, enquanto outros, explicitamente, proíbem-na. Ensina-se que a homossexualidade constitui-se pecaminosa, enquanto outros propalam que qualquer ato sexual por si só é pecaminoso. Apesar de tudo, há algumas pessoas dentro desses grupos religiosos que veem a homossexualidade de maneira mais positiva – há até quem pratique cerimônias religiosas de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Alguns grupos afirmam que a homossexualidade pode ser "superada" através da fé. Há vários "centros de cura" espalhados pelo mundo, de onde saem, como se isso fosse possível, os "ex-gays". No entanto, nenhum estudo científico comprova esta prática, e ela é desencorajada pela maioria dos médicos.

As religiões abraâmicas tradicionalmente veem as relações sexuais entre as pessoas do mesmo sexo como pecaminosas e as proíbem. Ensina-se que o amor entre homem e mulher é o "ideal" a ser praticado. Ancoram-se no fundamento vetusto de que "Se um homem coabitar sexualmente com um varão, cometerão ambos um ato abominável; serão os dois punidos com a morte; o seu sangue cairá sobre eles". – Levítico, 20:13-14.

O Torá é a principal fonte para se analisar a visão judaica da homossexualidade. Nele está descrito que: "[Um homem] não deve deitar com um homem como [ele] se deita com uma mulher; isto é uma toeva ("abominação")" (Levítico 18:22). Assim, como prevê vários mandamentos similares, a punição para a homossexualidade é a pena capital, apesar de que, na prática, o judaísmo rabínico livrou-se da pena de morte para todas as práticas há 2.000 anos.

O judaísmo rabínico tradicional prevê que este verso proíbe um homem de praticar sexo anal com outro. No entanto, o judaísmo rabínico proíbe qualquer contato homossexual entre homens e mulheres. O que alguns veem, hoje, como homossexualidade "biológica" ou "psicológica" não é discutido pelos rabinos mais conservadores. Discutem apenas que os atos são proibidos.

O judaísmo ortodoxo vê qualquer ato homossexual como pecaminoso. Muitos judeus ortodoxos veem a homossexualidade como escolha pessoal; outros acreditam ser desavença deliberada. Nova tendência de estudar o comportamento homossexual, entretanto, começou a operar-se, com uma isotopia mais compreensiva dos judeus homossexuais, mas nenhuma organização rabínica ortodoxa recomendou alterar a lei judaica. Grupos ortodoxos afirmam que qualquer mudança na lei mostra-se, absolutamente, impossível.

O judaísmo conservador, assim como o ortodoxo, vê a lei judaica como normativa, mas é, historicamente, mais flexível em sua interpretação. Sendo assim, engaja-se em um estudo profundo do assunto desde a década de 90, com grande número de rabinos apresentando disposição larga de responsa (papéis com argumentos legais) à consideração comunal. A posição oficial do movimento, desde a década passada, é de dar boas-vindas aos judeus homossexuais às suas sinagogas, e de fazer campanha contra a homofobia, mas mas também de proibir o sexo homossexual entre os membros como uma forma de exigência religiosa. No entanto, uma divisão recente no Comitê da Lei Judaica do movimento, em janeiro de 2007, re-interpretou a questão significativamente, e, agora, permite homens e mulheres homossexuais a se tornarem rabinos. Algumas formas de cerimônias de compromisso agora também são vistas como legítimas.

O judaísmo progressivo vê as práticas homossexuais como aceitáveis (da mesma forma que vê as heterossexuais). Autoridades do judaísmo progressivo acreditam que as leis tradicionais contra a homossexualidade não são mais válidas, pois não refletem às mudanças que se passaram no entendimento da sexualidade humana. Alguns acreditam que a proibição presente no Torá possuía intenção de banir o sexo homossexual praticado em rituais (como praticado pelos egípcios e cananeus), cultos de fertilidade e templos de prostituição.

Os atos homossexuais, no cristianismo, são reprovados na Sagrada Escritura, desde o Gênesis (castigo divino aos habitantes de Sodoma, donde vem o termo "sodomita", 19, 1-11) e o Levítico (18, 22 e 20, 13) até as cartas de São Paulo ("paixões desonrosas", "extravios", Rom 1,26-27 e também 1Coríntios 6,9 e 1Timóteo 1,10).

É conhecido o texto de São Paulo aos Romanos: "Os romanos trocaram a verdade de Deus pela mentira, adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito eternamente. Por isso, Deus os entregou a paixões degradantes: as suas mulheres mudaram as relações naturais por relações contra a natureza; os homens, igualmente, abandonando as relações naturais com a mulher, inflamaram-se de desejos uns pelos outros, cometendo a infâmia de homem com homem e recebendo o justo salário de seu desregramento". – Epístola aos Romanos, 1:26-27.

Durante toda a história do cristianismo, a Igreja Católica e, mais tarde, as autoridades protestantes se posicionaram, explicitamente, contra a homossexualidade e condenaram a prática de sexo entre pessoas do mesmo sexo. Há inúmeras citações no Novo Testamento (e nos trabalhos de Justino, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Cipriano de Cartago, Eusébio de Cesareia, Basílio de Cesareia, São João Crisóstomo, Agostinho de Hipona e de Tomás de Aquino) que servem de base à crença de que a homossexualidade constitui-se errada e pecaminosa.

Apesar de a maior parte das congregações cristãs atuais rejeitar o comportamento homossexual, alguns padres e pastores pregam que, se casais do mesmo sexo decidam se unir, que seja com compaixão e respeito um pelo outro.

Nos séculos XX e XXI, alguns historiadores e teólogos desafiaram o entendimento tradicional das passagens bíblicas que mencionam a homossexualidade, dizendo que foram "mal-traduzidas" ou "mal-interpretadas" (talvez porque não se referem àquilo que entendemos como "homossexualidade" atualmente).

A Igreja Católica Apostólica Romana requer que fiéis homossexuais pratiquem a castidade, por entender que os atos sexuais sejam "contra a lei da natureza". A instituição defende que a expressão apropriada da sexualidade deve ser feita dentro de um casamento monógamo e heterossexual e apenas na função de procriar. A Igreja defende que pessoas com tais tendências devem ser tratadas com respeito, compaixão e sensibilidade por padres e outros fiéis. O Vaticano requer que qualquer tendência homossexual seja superada para que se realize a ordenação de um diácono.

Durante a alocução por ocasião do Ângelus, em 9 de julho de 2000, o Papa João Paulo II, dirigindo-se aos fiéis na praça de São Pedro disse: "Em nome da Igreja de Roma, não posso deixar de exprimir profunda tristeza pela afronta ao Grande Jubileu do Ano 2000 e pela ofensa aos valores cristãos de uma Cidade, que é tão querida ao coração dos católicos do mundo inteiro.

A Igreja não pode deixar de falar a verdade, porque faltaria à fidelidade para com Deus Criador e não ajudaria a discernir o que é bem daquilo que é mal.

A respeito disto, desejaria limitar-me a ler quanto diz o Catecismo da Igreja Católica que, depois de ter feito observar que os atos de homossexualidade são contrários à lei natural, assim se exprime - "Um número não desprezível de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza.

Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da Cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição
(Nº 2358)".

Nem todos os fiéis da fé cristã condenam, porém, a homossexualidade como má ou pecaminosa; de fato, recentemente, ordenaram-se arcebispos homossexuais na Igreja Anglicana (Episcopal) do Reino Unido e dos Estados Unidos. Mas há uma contradição nisso tudo. Na bíblia, lê-se: "Deus não faz acepção as pessoas". Também dizem que ser homossexual não é condenado, mas o sim ato homossexual.

No islamismo: "Dentre as criaturas, achais de vos acercar dos varões, deixando de lado o que vosso Senhor criou para vós, para serem vossas esposas? Em verdade, sois um povo depravado!" – Alcorão, "Os Poetas" (26ª sura), 165-166.

Todos os maiores setores islâmicos desaprovam a homossexualidade, e o sexo praticado entre pessoas do mesmo gênero constitui-se crime que punido com a morte em algumas nações muçulmanas. Durante o regime Talibã, no Afeganistão, a homossexualidade também era crime punido com a morte. Em outras nações muçulmanas, entretanto, a homossexualidade é punida com prisão, multas ou punição corporal.

Os ensinamentos islâmicos (na tradição do hadith) promovem a abstinência e condenam a consumação do ato homossexual. De acordo com essa crença, o desejo de homens por jovens atraentes é visto como característica humana esperável. No entanto, ensina-se que conter tais desejos é imperioso, pois garantirá o pós-vida no paraíso, onde se é presenteado com mulheres virgens(Corão,56: 34-38). O ato homossexual é visto como uma forma de desejo que viola o Corão. Apesar de que a atração homossexual não é contra a Charia (lei islâmica que governa as ações físicas, mas não os sentimentos e pensamentos), o ato sexual é, segundo esta, estranhamente, passivo de punição.